O que fazer no futuro? A dúvida é comum entre os jovens. Escolher a profissão, o caminho que irá trilhar e não fazer parte da geração ‘nem nem’ – nem estuda, nem trabalha – envolve escolhas e poder contar com orientação e apoio é fundamental nesse processo. Uma parceria entre o Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da Comarca de Toledo e o Colégio Estadual Presidente Castelo Branco (Premen) tem fomentado discussões sobre o tema.

Durante três semanas foram realizados círculos restaurativos com as turmas matutinas, vespertinas e noturnas dos terceiros anos do Premen. “Nós do Cejusc estávamos com uma turma para formar em Justiça Restaurativa, assim nos juntamos ao Premen e realizamos 24 Círculos Restaurativos de Construção de Paz com os alunos”, pontou a gestora administrativa do Cejusc de Toledo, Barbara Prebianca Hofstaetter. “O assunto escolhido foi ‘qual história você quer contar’, o tema foi solicitado pelo próprio colégio, pois eles estão com preocupação com o pessoal que está saindo do colégio, visto que, somente 12% dos alunos estão saindo da escola e entrando nas universidades”.

Segundo Bárbara, o Cejusc faz as Mediações e as Justiças Restaurativas. Ela relata que no ano passado foram realizados dois cursos: em julho de facilitador para Justiça Restaurativa e em agosto para Mediador e conciliador judicial. A forma de cumprimento de estágio, conforme a gestora, é diferente em casa curso, pois cada uma trata de um assunto diferente.

“Quando se fala de Mediação o estágio é feito com a realização da audiências junto ao Cejusc. Já na Justiça Restaurativa o estágio é realizado fazendo Círculos de Construção de Paz. Essa primeira etapa não é relacionado a processos judiciais. Dessa forma, esses círculos podem ser realizado de diversas formas, para conversar sobre um tópico específico, para comemorar uma data, para fechar um ano”, explica.

O Premen soube que o Cejusc estava com uma turma para se formar e que precisa realizar quatro círculos cada um. “O Colégio abriu a oportunidade de fazer um projeto entre Cejusc e Premen para conversar diretamente com os adolescentes que se encontram no 3º ano, o tema da conversa o Premen queria que fosse algo ligado as perspectivas deles em relação ao futuro. A ideia era colocar eles para pensar sobre o assunto, pensar quais seriam os próximos passos, se seria faculdade, cursinho ou trabalho. Visto que atualmente existem muitos adolescentes/adultos que são o ‘nem-nem – nem trabalha e nem estuda”.

Após a temática proposta pelo Premen, a equipe do Cejusc se reuniu e montou um roteiro. Foram aplicados os círculos em 24 turmas: todas as de terceiros anos e mais duas de quartos anos técnicos, totalizando 396 estudantes. “A iniciativa foi bem legal. Conseguimos que pelo menos alguns adolescentes parassem para pensar sobre o assunto”, declara.

PARCERIA QUE GERA FRUTOS – “O Colégio já tinha essa parceria com o Cejusc, desde 2017, com o Curso de Formação de Docente com o Projeto Cultura de Paz”, conta a professora/pedagoga do Premen, Ana Maria De Bona Casagrande. “Em 2017, quando fiz o curso de Justiça Restaurativa, desenvolvemos um trabalho de Círculos de Paz, em uma Formação Pedagógica com professores e funcionários. Hoje, participo do Cejusc como mediadora em formação, conversamos para desenvolver o projeto”, salienta.

De acordo com Ana Maria, no cotidiano da escola, foi possível perceber que os formandos estavam desestimulados em relação a escolha profissional, vestibulares, Enem, e que seria necessário fazer algo em relação a essa falta de perspectiva. Foi com base nessas observações que foi sugerido o tema para a realização dos círculos.

RESULTADOS – “Conforme os relatos dos alunos e depoimentos de professores e pedagogos, é necessário momentos que sejam diferente do formato tradicional da escola, onde consigam se sentir à vontade, sem julgamento do que pensam, do que gostam, do que não gostam, socializando suas ansiedades e insegurança em relação as suas escolhas e o seu futuro.

Infelizmente, a sociedade, as famílias e a própria escola não proporcionam momentos de acolhida, de escuta e muitos alunos acabam desenvolvendo sintomas de ansiedade, depressão, insegurança, penso que ao trabalhar esses momentos, muitos alunos conseguem amenizar as situações citadas. Foi muito satisfatório contribuir com a organização dos 24 Círculos de Paz. Com certeza o que vivenciaram aqui fará diferença em algum momento de suas vidas”, relata Ana Maria.

DEPOIMENTOS DE ALUNOS – A professora/pedagoga do Premen, Ana Maria De Bona Casagrande, relata que vários estudantes da turma disseram que gostaram e acharam a experiência incrível. “Achei o Círculo de Paz uma sensação de acolhimento com a situação e com as pessoas, me senti confortável, interagindo com pessoas que, normalmente, não iriamos interagir”; “Fui ouvido e compreendido, trocamos informações e interagimos. Espero que esse projeto continue”; “Foi muito acolhedor, fomos ouvidos e compreendidos, a experiência foi incrível”; “Achei muito bom, pois essa interação fez com que nos conhecemos melhor, no início achei estranho, mas depois fui me soltando e entendendo meus colegas, sabendo da vida deles. Achei muito legal o significado dos objetos”; “Me senti acolhido e compreendido, uma experiência única, no início, achei que era macumba ou algo religioso, o significado dos objetos foram impactantes. Achei interessante a iniciativa do colégio em trazer algo tão diferente”.

Da Redação

TOLEDO

Créditos: Jornal do Oeste