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O conto da aia - CineIndicação
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Publicado em 27/05/2022

O Conto da Aia* - Série

Ficha Técnica Completa

Título Original: The Handmaid’s Tale

Ano de Produção: 2017

Duração: 600 minutos (1ª temporada)

Classificação: Não recomendado para menores de 18 anos

Gênero: Drama, Família, Thriller

País de Origem: Estados Unidos

*Baseada no romance homônimo de Margaret Atwood.

Emerson Diego Maier

A série “O conto da Aia” deriva dos livros escritos por Margaret Atwood. A série se passa num futuro extremamente distópico, no qual parte do território dos EUA teve toda a sua estrutura política, institucional e moral corrompida em prol de uma ideologia fundamentalista, fascista, radicalmente cristã de orientação protestante-evangélica. Entende-se que esta ideologia já existia e era reverberada nos bueiros mais conservadores dos EUA, mas ganhou corpo na comunidade ou grupo terrorista intitulado “filhos de Jacó”. Foi neste círculo fundamentalista, onde vivia o casal composto pelos personagens Fred Waterford e Serena Joy, que tal ideologia ganhou corpo de projeto político. Ironicamente, o projeto foi pensado e arquitetado por uma professora mulher radicalmente conservadora, o que torna ainda mais cômico o fato dela mesma sofrer as consequências dos mecanismos repressores de cuja criação participou. À medida que este projeto fora apreciado pelos “filhos de Jacó”, ela se tornou a bandeira deste grupo composto por congressistas e homens que ocupavam cargos no escalão do governo dos EUA.

A maneira como tal projeto foi implementado lembra muito como todo golpe fascista é implementado: aos poucos, como um “remédio amargo”, algo temporário, somente até a sociedade voltar os “trilhos”, até que o golpe é dado de uma única vez sem que ninguém pudesse reagir, pois houvera três situações que impedia uma reação rápida e eficaz. A primeira se dá no fato de que os “filhos de jacó” com o tempo ocupavam boa parte dos cargos de poder dos EUA, consequentemente, possuíam poder sobre todo o armamento bélico, militar e nuclear, além de controlarem toda legislação, economia e repressão policial. O segundo se trata de a oposição estar mais preocupada em dar respostas democráticas e notas de repúdio para um problema fundamentalmente totalitário. A terceira é que parte da população compartilhava, em certo sentido, desta ideologia cristã, algo que em nossa realidade pode ser verificado, pois estamos falando de um país (EUA) que ainda no séc. XXI se utiliza de uma bíblia para efetivar o juramente de posse do presidente da república. Com toda estrutura armada, bastou um ataque terrorista para matar o presidente e boa parte do congresso para instaurarem um novo regime político, a República de Gilead, um novo país forjado com base na bíblia do antigo testamento, se consolidando como um novo modelo totalitário, hierárquico, militarizado, pondo em prática um novo sistema de castas cristão.

O contexto para que tal projeto totalitário e misógino fosse posto em prática é o de um mundo radioativo, poluído, fruto de uma breve guerra nuclear, em que a esterilidade é uma realidade e a baixa taxa de natalidade é um fato. Logo, a culpa da esterilidade é jogada nas costas das mulheres, tornando as mulheres mais pobres, as socialmente vulneráveis e oposicionistas em inimigas do Estado. Além de terem todos os seus direitos suprimidos, tais mulheres também tiveram seus nomes alterados, levando junto de seu novo nome o nome do Comandante nessa estrutura: “Of-nome do comandante”, na tradução “of” significa “de”, ou seja, “De-nome do comandante”. A República de Gilead transformou as mulheres em verdadeiras barrigas de aluguel, hodiernamente estupradas em um ritual macabro por um comandante de Estado, acompanhado de sua esposa. A situação de parte da população norte-americana que acatou a revolução cristã não é tão diferente, pois estes já eram membros de alguma religião cristã de orientação evangélica. De modo geral, todas as mulheres perdem seus direitos, todos eles. O Estado as enxerga como gado, no entanto, aqueles que aceitam o golpe – que já eram cristões evangélicos – continuam suas vidas (menos as mulheres). Os oposicionistas, compostos por feministas, pensadoras(es), LGBTQIA+ e grupos rebeldes são perseguidos, mortos, ou mandados para um campo de concentração que realiza a limpeza de locais atingidos por bombas nucleares.

Este é o cenário em que a protagonista June Osborne ou Offred se encontra. Nossa protagonista possui um papel fundamental na série pois, no decorrer da série, é ela quem dá o primeiro passo em direção a reconstruções da democracia e, consequentemente, à libertação das mulheres deste suntuoso horror fundamentalmente misógino. Nossa personagem retrata a mulher revolucionária, que contesta as imposições e que no início se encontra quase sozinha nesta luta contra a república de Gilead. Contudo, com muita luta e união, as mulheres conseguem reverter esta situação e alcançam sua libertação.

Aliás, vale ressaltar que Margaret Atwood não baseou unicamente a sua obra em sua imaginação. Atwood relata que todas as situações descritas no livro e, posteriormente, na série, foram retiradas de nossa realidade. Para a escritora, não faltaram exemplos para sua inspiração: holocausto, controle de corpos femininos e ideologias radicalmente tradicionalistas-religiosas sendo reverberadas em diversas repúblicas por chefes de Estado.

Este trabalho foi elaborado pelos alunos do curso de Filosofia, da UNIOESTE, Campus de Toledo.

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